Igreja de Santa Rita de Cássia (Rio de Janeiro)
Igreja de Santa Rita de Cássia | |
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Tipo | igreja |
Geografia | |
Coordenadas | |
Localização | Rio de Janeiro, Saúde - Brasil |
Patrimônio | Património de Influência Portuguesa (base de dados), bem tombado pelo IPHAN |
O Santuário de Santa Rita de Cássia é um templo católico de importância histórica e artística da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, tombado pelo Iphan em 1938.
História
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Sua fundação se deve a Manoel Nascentes Pinto e sua esposa Antonia Maria, proprietários de um quadro a óleo com a efígie da mística italiana. Tendo crescido a devoção popular a Santa Rita, cujo culto doméstico fora aberto ao público, decidiram adquirir uma imagem em talha para ser o orago da futura capela. Essa imagem permaneceu na igreja de Nossa Senhora da Candelária enquanto a capela não ficou pronta.
O terreno da igreja foi comprado em 1718, a pedra fundamental foi lançada em 1719 e em 1721 o casal doou à mitra a capela-mor, sacristia e consistório, além de alfaias doadas pelo casal Pinto.[1] No entanto, exigiram os privilégios de padroado sobre a igreja, o que levou a um litígio com a diocese, só resolvido em 1741, com a desistência do pleito por parte do filho de dom Manoel, Ignacio Nascentes Pinto.[2] Naquele ínterim, a família conservou a igreja consigo, a título de oratório particular. A nave foi concluída em 1728, como está registrado na fachada.[3]
A antiga irmandade de Santa Rita, constituída quando da doação, foi transformada na Irmandade do Santíssimo Sacramento de Santa Rita quando o templo foi elevado à condição de matriz paroquial da área que então era o subúrbio da cidade do Rio de Janeiro.
O território da freguesia de Santa Rita, que hoje é um pouco menor, compreendia o bairro da Vila Verde (parte norte do Centro), os morros de São Bento e Conceição, e as enseadas do Valongo e da Gamboa. Em virtude de sua localização, a paróquia ficou responsável pela cura pastoral da área portuária e, consequentemente, dos cativos africanos ali comercializados.
A criação da paróquia observou as seguintes datas: sede de freguesia por provimento de 9 de janeiro de 1749; desmembramento do território de Nossa Senhora da Candelária a 29 de janeiro de 1751, ereção em vigaria a 5 de maio de 1753, apresentação do primeiro pároco perpétuo, João Pereira de Araújo e Azevedo, no dia 29 do mesmo mês.
Entre 1753 e 1759, foram refeitos o frontão, o coruchéu da torre e toda a talha do interior, que passou a ostentar um estilo rococó, primeira manifestação desse estilo nas Américas, quase simultânea ao seu surgimento na França.[3]
Em 1763, a Irmandade do Santíssimo Sacramento adquiriu um terreno com casas nos fundos da igreja para a construção de instalações mais amplas para o consistório e sacristia, além de abrir espaço para a criação de outra irmandade, a de São Miguel e Almas. Em 1870 o frontispício lavrado foi substituído por um arco simples.[1]
As reformas urbanas de Pereira Passos, no início do século XX, não afetaram a igreja, embora tenham remodelado o seu entorno com a derrubada de um quarteirão e a abertura da Avenida Mal. Floriano, símbolo da Belle Époque carioca.
Em 2021, Santa Rita de Cássia foi proclamada padroeira do Centro do Rio de Janeiro.[4] Quatro anos depois, no Ano Jubilar de 2025, o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Orani João Tempesta, decretou a elevação da matriz de Santa Rita à condição de Santuário Arquidiocesano, tendo presidido a 22 de março a Missa de instalação.[5]
Características arquitetônicas
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Em sua condição presente, a igreja tem uma fachada relativamente sóbria, constituída de um retângulo com uma porta em arco pleno e duas janelas no piso superior, coroadas por vergas em arco abatido. Sobre a porta, onde antes havia um rico frontispício decorativo, hoje só existe um medalhão com uma imagem da padroeira. O frontão preserva sua forma rococó, com um óculo e volutas, encimado por uma cruz e ladeado por pináculos. Ao lado do corpo da igreja se ergue um campanário, com uma porta na base, acima uma janela, e sobre estes elementos um relógio e os arcos para os sinos. O coruchéu tem um formato bulboso, com quatro pináculos nos cantos.[1]
Interiormente possui uma nave única, capela-mor alongada e uma sacristia no lado esquerdo. Quatro altares laterais completam o conjunto, ostentando antiga estatuária do século XVII. A nave, com um teto abobadado, possui também dois púlpitos entalhados, tribunas, painéis de azulejos e um coro. A presença de um óculo sobre o arco do cruzeiro e uma claraboia no teto da capela-mor são detalhes incomuns nas igrejas brasileiras do século XVIII. Sua talha é rica e elegante, e é uma das poucas que sobreviveram intactas às reformas posteriores que alteraram a decoração de inúmeros templos barroco-rococós no Brasil. O retábulo-mor ainda preserva traços barrocos, tendo sido em parte reaproveitado o da primeira decoração. O modelo dos seus retábulos inspirou a decoração de outras igrejas cariocas, como a da Glória do Outeiro, da Lapa dos Mercadores e se Santa Cruz dos Militares. O teto da capela-mor mostra uma pintura do início do século XX ilustrando milagres de Santa Rita.[1]
Os Cemitérios de Pretos Novos
[editar | editar código-fonte]Presume-se que, a partir de 1741, depois que os Nascentes Pinto entregaram definitivamente à mitra a então capela de Santa Rita, o templo passou a enterrar os pretos novos, isto é, os cativos recém-chegados de África falecidos antes da venda. Como não houvesse mais espaço no adro, as inumações passaram a ser feitos no Largo de Santa Rita, causando reclamações por ser um logradouro público e não um lugar adequado para enterros.[6]
Em 1774, por determinação do vice-rei Marquês do Lavradio, o comércio de atacado foi transferido de dentro da Cidade do Rio de Janeiro para a região do Valongo, subúrbio pertencente à mesma freguesia de Santa Rita. Com isso, o tráfico negreiro e seu respectivo cemitério também se mudaram para lá. O novo Cemitério de Pretos Novos do Valongo funcionou na Rua Pedro Ernesto (Antiga Rua do Cemitério) até 1830, quando foi extinto o tráfico negreiro oficial.[6]
O antigo Cemitério de Pretos Novos de Santa Rita ficou esquecido por muito tempo, mas a passagem do VLT Carioca no Largo de Santa Rita em 2018 ocasionou uma contestação dos movimentos sociais sobre as pesquisas arqueológicas na região. Como sucedâneo à necessária rememoração dos mortos ali enterrados, o IPHAN propôs a representação de rosas negras no chão do cemitério, que continua servindo de logradouro público. As contradições políticas do episódio, a falta de razoabilidade dos argumentos aduzidos e o estranhamento diante da invisibilidade do Cemitério de Santa Rita não receberam resposta satisfatória nem da academia nem das instituições públicas.[6][7]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d Oliveira, Myriam Andrade Ribeiro de & Justiniano, Fátima. Barroco e Rococó nas Igrejas do Rio de Janeiro. Série Roteiros do Patrimônio. Brasília, DF: Iphan/Programa Monumenta, 2008, p. 23-31.
- ↑ Nara Jr., João Carlos (2019). O Rio de Janeiro entre conquistadores e comerciantes: Manoel Nascentes Pinto (1672-1731) e a fundação da freguesia de Santa Rita. Col: Coleção Ciências sociais. Seção história 1a edição ed. Curitiba, PR: Appris Editora. OCLC 1141204413. Consultado em 7 de maio de 2025
- ↑ a b Nara Jr., João Carlos (2016). Arqueologia da persuasão : o simbolismo rococó da Matriz de Santa Rita. Curitiba, PR: Appris. ISBN 9788547303105. OCLC 1005460178
- ↑ Nara Jr., João Carlos (11 de setembro de 2022). «Santa Rita, padroeira do Centro do Rio». FREGUESIA DE SANTA RITA DO RIO DE JANEIRO. doi:10.58079/tvo2. Consultado em 7 de maio de 2025
- ↑ «Cardeal Tempesta cria o Santuário Santa Rita, no Centro Histórico – Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro». Consultado em 7 de maio de 2025
- ↑ a b c Nara Jr., João Carlos (6 de fevereiro de 2024). Fronteiras da escravidão: da África ao cemitério de pretos novos de Santa Rita no Rio de Janeiro. Col: Edições do Senado Federal. Brasília, DF: Senado Federal
- ↑ «Está aqui, sob o VLT, o cemitério de escravos que a prefeitura do Rio dizia ser 'especulação'». Intercept Brasil. 24 de janeiro de 2019. Consultado em 7 de maio de 2025